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Da amizade como superação


Lellis Vasconcelos
O curta metragem “L”oferece várias possibilidades de leitura a partir da descoberta do mundo de uma criança. Em uma cena de tons escuros, seu pai observa os pés machucados da garota e não imagina que ali reside apenas a superfície de um conflito. Em planos abertos a diretora Thaís Fujinaga observa a sua solidão, ao se afugentar no vestiário ou na borda da piscina, evitando contato com outras crianças. Aos poucos se revela o porquê de tal semblante, da autoflagelação, das tentativas de evitar a aproximação de Hector, um garoto simpático, descendente de japoneses, que parece mais leve diante de seus próprios temores.
De cima, vemos Tetê e Hector numa banheira brincando com um pequeno peixe. O garoto começa a conhecer seu mundo particular. Uma amizade inicia, onde conflitos são compartilhados e a procura por dissipa-los pode ser uma saída. Ou talvez um silente pedido de ajuda, pontuada por uma trilha sonora que nos faz submergir com a garota.
Em ótima performance de seus jovens atores, “L” consegue ser leve e forte, evidenciando que, numa sociedade que diferenças muitas vezes são vistas como defeitos, é preciso superar sentimentos de desajuste normalmente colocados como brincadeira, gerando seres solitários que se resguardam ou usam da mesma atitude como forma de defesa.
Que venha o dia em que a necessidade de adequação não seja mais necessária; que oprimidos não se tornem opressores; que a jovem Tetê não precise ser “GARSA” ou “L”.
* Extraído do site Oficina de Crítica do crítico André Dib.