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No nono nono (O Processo)




Por José Alberto Júnior



Em abril de 2016, o país assistia ao processo de impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff. Lembro daquele doloroso dia de domingo. Eu e minha companheira assistíamos catatônicos ao que era mostrado na televisão. Era o começo de uma tragédia que ecoa até os dias de hoje. Todo esse sentimento de luto e derrota senti novamente ao ver O Processo, de Maria Augusta Ramos, na 4ª Mostra Pajeú de Cinema.

A diretora retrata esse processo de impeachment com um olhar sensível à representação da mulher e às relações de gênero, que se mostram presentes na obra. Seja o plano de Dilma indo ao encontro das mulheres em frente ao Palácio do Planalto, seja o de Janaína Paschoal em uma conversa sobre a questão do aborto. As mulheres sempre em primeiro plano.

É importante ressaltar também que a diretora tentou documentar todo esse desenrolar, seus trâmites jurídicos, legais e políticos, ou seja, o que ocorria para além do reportado pela imprensa.

Maria Augusta deixa claro que o filme toma um lado. Ela aponta sua câmera de maneira distante para obter as encenações desse julgamento. Maria Augusta assim, começa a registrar nossa história contemporânea para além do ódio, das paixões e dos desatinos que tem tomado as narrativas até agora. A montagem é algo que impressiona: em certos momentos ela parece ser de um filme de faroeste – os embates de Dilma com Cássio Cunha Lima são mostrados de maneira absurda. É importante ressaltar também que a equipe de filmagem tentou captar cenas das reuniões dos ditos da direita, pemedebistas, psdebistas e Janaína Paschoal, mas estes não permitiram que a equipe os acompanhassem. Uma das razões para a ausência de cenas do “outro lado”.

O Processo nos faz (re)ver todo esse luto. Impossível não perceber a operação de uma grande injustiça, de uma farsa. Temos aqui um dos maiores documentos históricos da década. Só não sei se é o melhor documentário nacional já feito ou a melhor adaptação da obra de Kafka.



A Oficina de Crítica da 4ª MPC foi ministrada pelo crítico de cinema Heitor Augusto.