Por Nayane Nayse
Há sempre a expectativa do novo. Surpresa. Gentil ou
destrutiva.
A barreira invisível separa a projeção (em movimento) do
espectador (sujeito dividido); o que fixa o olhar na tela ou fixa no vazio,
enquanto a mente tenta prever o que virá.
O invisível também separa o passado do futuro. Separa o
senso de apropriação do abandono. E com mérito.
Um filme de apropriação.
Pela lógica, foi produzido e situado num espaço-tempo. Mas
digo que a apropriação estava sendo feita, ainda e também, enquanto assistíamos
ao filme pela primeira vez, e não apenas em sua retomada oficial, em 1994.
Acompanhei a reconstrução, mesmo que visualmente, da nova
temporada. Ouvi os passos, as vozes, gritos e lamentos daquele dia. Retirei
árvores inteiras da terra fértil, que também faz crescer e fincar as raízes da
magia, da inquietação, de quem hoje pisa no ambiente e de quem tem tempo para
reinvenção. Eu tive o sol e sorriso forte na cara. Tive a pressa e a timidez da
menina-criança que corre entre os escombros. E que bom ver crianças. Que bom
que a luta se faz ao lado da inocência.
É preciso ser inocente para festejar. E festejar lutando é
mais que forte.
Eu tomo como partida o começo da minha luta a continuidade dos
que estiveram presentes naquele ano. De quem fez de pé, outra vez, o Cine São
José.
A base do piso foi feita do suor companheiro-político. As
divisões estruturais vieram da coragem. Paredes levantadas pela excitação. A
tela posta como nos sonhos infantis.
E há o saudosismo ante as fotografias numa imensidão escura.
O olhar, a palavra sedenta e orgulhosa. Esse escuro não traz medo. Acolhe.
Progride.
José é nome forte. “São”.
A Oficina de Crítica da 4ª MPC foi ministrada pelo crítico de cinema Heitor Augusto.