Por José Alberto Júnior
Durante toda minha infância a chegada à minha cidade dos
parques de diversão itinerantes me deixava maravilhado e animado. Brincava e
andava naqueles brinquedos, era a maior alegria. Porém, depois de adulto,
passamos a ver um lado que passava despercebido na infância: as pessoas que
trabalham nesses parques e, literalmente, os trazem à vida. A atenção a esse
aspecto deve também ter sido despertada na diretora Cecília da Fonte, diretora
de Parquelândia, exibido mostra de longas-metragens da 4ª Mostra Pajeú
de Cinema.
O documentário acompanha a vida de um grupo de pessoas que
trabalham em um parque itinerante no sertão nordestino e todas as situações de
trabalho ali envolvidas. Somos apresentados aos trabalhadores do parque pelo
tom observacional de Cecília; a diretora pouco conversa com os personagens, nos
deixando apenas ver todas aquelas situações mostradas pela câmera.
De fato, o filme faz uma denúncia sobre o modelo de trabalho
que se é feito nesses parques. O dono do parque, por exemplo, fala que foi
oprimido quando era apenas mais um trabalhador, mas agora oprime seus
trabalhadores. Em determinada cena, ele chama Damião – um dos personagens
observados pela diretora –, um dos trabalhadores do parque, de “neguinho”, em
um tom de forte preconceito racial.
No entanto, a diretora se equivoca em outras partes do
filme. A mão pesada de Cecília acaba por reproduzir planos estereotipados de
como o nordeste era visto em filmes, telejornais na televisão aberta e na
literatura. Os planos da família de João – outro personagem que a lente da
diretora acompanha durante o filme –, ali parados em frente à casa, assim como
o plano de João lavando suas roupas em uma pedra em beira de açude enquanto
outras pessoas tomavam banho me fez lembrar de como essas imagens chegaram às
áreas nobres do país e fizeram disso um estereótipo do nordeste.
Parquelândia é um filme que denuncia a perversidade
do trabalho informal dos parques itinerantes, mas, ao mesmo tempo, reforça uma
marginalização da imagem do sertanejo. Um material que poderia render um filme
melhor, sem necessidades de repetições de signos arcaicos da vida sertaneja.
Afinal, para que Brasil esse filme foi feito?
A Oficina de Crítica da 4ª MPC foi ministrada pelo crítico Heitor Augusto.